Mundo ao Leo

Esse blog não é um diário. É um compartilhar de como vejo o mundo. É uma mensagem numa garrafa jogada ao mar, pronta para algum navegante pegar na rede. lsmsoares@gmail.com

sábado, setembro 30, 2006

Por que o brasileiro vota na esquerda

Foto: Olavo de Carvalho


Muita gente não gosta do Olavo De Carvalho, independente do que você acha dele, aqui vai um texto dele que faz a gente pensar. Escrito no jornal Zero Hora (10/09/06):


Por que o brasileiro vota na esquerda


“Se no Brasil ocorre esse fenômeno aberrante de um eleitorado conservador votar maciçamente em candidatos de esquerda, o motivo da contradição aparente é claríssimo e se compõe da confluência de três fatores.

“Desde logo, o conservadorismo não tem canais partidários ou culturais de expressão e se tornou politicamente nulo. Não há políticos conservadores: ninguém pode votar em candidatos inexistentes.

“De outro lado, o esquerdismo usa uma linguagem nas suas discussões internas, outra para falar com o povo, e só na primeira delas assume sua verdadeira identidade ideológica. Na outra ele dilui sua imagem em generalidades moralistas, nacionalistas e populistas. É um discurso maliciosamente escorregadio, que evita o jargão marxista e impede o povo de identificar a esquerda brasileira com a revolução neocomunista continental. Até observadores estrangeiros qualificados, mas que desconhecem os documentos internos do PT e do Foro de São Paulo, como por exemplo Álvaro Vargas Llosa, Otto Reich e o próprio subsecretário Tom Shannon, se deixaram enganar por essa falsa aparência, imaginando o esquerdismo brasileiro como populista em vez de comunista. A população local, é claro, cai no engodo ainda mais facilmente. Mesmo entre pessoas letradas é comum a reação: "Lula, comunista? Você está doido." O próprio Lula pôde dizer, sem que ninguém o contestasse, que não apenas nunca foi comunista como não é nem mesmo esquerdista. Essa declaração seria considerada cínica, inaceitável e até criminosa se a platéia não ignorasse que o declarante foi fundador e presidente da maior organização pró-comunista do continente.

“Em terceiro lugar, o sucesso de quarenta anos de "revolução cultural" gramsciana foi tão avassalador -- dada a completa falta de resistência --, que os valores, critérios e até cacoetes mentais do movimento comunista internacional se incorporaram no "senso comum" brasileiro e já não são reconhecidos como tais: são aceitos passivamente pela sociedade, sem consciência de suas implicações ideológicas.

“Somem esses três fatores e compreenderão por que um povo conservador vota em candidatos comunistas: ele não sabe que são comunistas, não sabe o que há um movimento comunista ativíssimo no continente não tem a menor idéia das conseqüências do seu voto. As eleições brasileiras são uma farsa no sentido mais exato e integral do termo.

“Não havendo partidos ou políticos de direita no Brasil, toda a confrontação direita-esquerda que se vê atualmente é uma obra de engenharia social criada pela própria esquerda com três objetivos: (1) ocultar sua hegemonia e seu poder monopolístico sob uma aparência de disputa democrática normal; (2) neutralizar quaisquer tendências direitistas, canalizando-as para uma direita pré-fabricada, a "direita da esquerda", o que se observou muito claramente nas duas campanhas eleitorais de Fernando Henrique Cardoso, um marxista gramsciano que foi alegremente aceito como depositário (infiel, é óbvio) da confiança do eleitorado direitista; (3) dominar todo o espaço político por meio do jogo de duas correntes partidárias fiéis ao mesmo esquema ideológico, só separadas pela disputa de cargos, como aliás o reconheram explicitamente o próprio Fernando Henrique e o prof. Christovam Buarque, então um dos mentores do PT. Essas três linhas de ação definem exatamente o que Lênin chamava "estratégia das tesouras", termo inspirado na idéia de cortar com duas lâminas.

“O PFL poderia ser um partido de direita, mas, como só quer cargos e não tem nenhuma perspectiva de poder, consentiu em tornar-se uma filial do PSDB. O PMDB é esquerdista desde a origem e está repleto de comunistas. O PSDB, a "direita da esquerda", é a boca de funil para onde converge o que possa restar de direitismo hipotético nesses outros partidos. Tal como o PT, esse partido nasceu na USP, e sua única função no conjunto da estratégia comunista uspiana é impedir que os descontentes com o PT acabem se aglutinando numa direita genuína.”


Site Oficial: http://www.olavodecarvalho.org/

2 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Vou precisar de uma aula para entender melhor o texto. recomendas algum professor?

10:52 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Não é difícil entender porque muito não gostam do Olavo de Carvalho. Ele fez uma análise dura e complexa de uma realidade que é razoavelmente simples. Mas ele tem razão em muitos pontos. O fenômeno da esquerda no Brasil não é diferente do que ocorre no resto da américa latina, forrada de países que tiveram sua evolução política castrada por golpes militares. Que realidade é essa? Uma massa ignorante e necessitada, portanto facilmente comprável; uma elite sem senso de coletivo (nem da própria elite!), que opera focada em benefícios individuais (e aí concordo com o Olavo); e uma classe média esmagada como sempre. A esquera aprendeu a comprar a classe baixa, e ofereceu uma perpectiva de mudança para a classe média. E assim tem-se maioria eleitoral. Entretanto insinuar que isso não passa de um plano muito bem articulado em favor do comunismo é exagero e implica em presumir um nível de organização que nossa esquerda não tem. Inclusive isso me lembrou os "amigos" do Marino, lá no DCE gritando: "Isso não passa de um plano vindo diretamente de Washington!".

9:36 AM  

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